( Guiné, Agosto 1972 - desmontagem de mina )
As circunstâncias da vida levam-nos muitas vezes, e ainda bem, a alterar a maneira como se vêm as coisas de acordo com os chamados e tão em voga contextos, com a natural evolução dos nossos conhecimentos e sensibilidades, ou mesmo com o distanciamento dos factos.
Daí que, e já o manifestei neste blog, a história não deva ser contada pelos contemporâneos dos acontecimentos mas sim com a frieza dos vindouros. É dos livros !
Acho, pois, uma palermice ( parafraseando o douto Manuel Pinho ) conjecturar com juízos de valor sobre a ditatorial figura do Marquês de Pombal, as arbitrariedades de D. Afonso Henriques e outros uma vez que, nos seus tempos, aquilo que hoje nos impressiona pela negativa, eram considerados actos de grande coragem e dignos dos maiores louvores.
Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes ....
Nos idos de 60's / 70's, estive, a par de outros milhares de camaradas ( este termo não é político ! é militar ) envolvido na chamada guerra do ultramar.
Saíu-me na rifa uma missão na Guiné.
Por lá me mantive dois intermináveis anos não sem que, por vezes, fosse "mandado ao tapete" como resultado de acções bélicas.
A esta minha fantástica experiência de vida voltarei em futuros posts recordando e exorcisando "cenas da vida dum militar operacional" na plenitude da sua juventude.
Hoje referir-me-ei a algo que me impressiona desde o dia em que vi, tecnicamente, o teor duma chamada mina anti-pessoal que coloquei às centenas naquele território.
Fui, naquele tempo, um oficial operacional da arma de infantaria com a particularidade de me ter especializado na vertente "minas e armadilhas".
Essa especialização foi ministrada na Escola Prática de Engenharia em Tancos onde permaneci 4 mêses familiarizando-me com a mais diversa quantidade e qualidade de engenhos.
Uma vez chegado à Guiné, e desembarcado no cais do Pigiguiti após uma caricata viagem no velhinho Carvalho Araújo, fui colocado na zona operacional de Bula.
A breve trecho fui deslocado para a zona entre Bula e o rio Cacheu cuja mata foi minada ao longo de 14 kms tendo sido montadas qualquer coisa como 50.000 minas. Foi obra !!!
Os efeitos práticos da detonação daqueles engenhos só viriam a ser observados quando houvesse um acidente. Infelizmente, esse, não demorou a ter lugar mas, para infortúnio nosso e lançamento da moral para os níveis mais deploráveis, aconteceu com um camarada nosso.
A estupidez daquele modelo de mina primava pelo conjunto de pregos e de pedaços de metal integrados no bloco de trotil que, ao rebentar, dilacerava o membro inferior de modo a estropiar barbaramente o infeliz.
Venho com esta restropectiva para elogiar todos os que se dedicam à tentativa de sensibilização das gentes no sentido de tudo se fazer para que tais restos bélicos sejam positivamente varridos dos ex-cenários de guerra.
Concordo que figuras públicas sejam aproveitadas para essa missão pela sua capacidade de intervenção mas exijo que sejam embaixadores dessa causa a tempo inteiro e não apenas quando tal acção se associa a um outro evento todo glamouroso onde se pavoneiam vaporosos vestidos com sensuais decotes e finalizados por torneadas pernas que escaparam ao cepo da detonação.
Daí que, e já o manifestei neste blog, a história não deva ser contada pelos contemporâneos dos acontecimentos mas sim com a frieza dos vindouros. É dos livros !
Acho, pois, uma palermice ( parafraseando o douto Manuel Pinho ) conjecturar com juízos de valor sobre a ditatorial figura do Marquês de Pombal, as arbitrariedades de D. Afonso Henriques e outros uma vez que, nos seus tempos, aquilo que hoje nos impressiona pela negativa, eram considerados actos de grande coragem e dignos dos maiores louvores.
Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes ....
Nos idos de 60's / 70's, estive, a par de outros milhares de camaradas ( este termo não é político ! é militar ) envolvido na chamada guerra do ultramar.
Saíu-me na rifa uma missão na Guiné.
Por lá me mantive dois intermináveis anos não sem que, por vezes, fosse "mandado ao tapete" como resultado de acções bélicas.
A esta minha fantástica experiência de vida voltarei em futuros posts recordando e exorcisando "cenas da vida dum militar operacional" na plenitude da sua juventude.
Hoje referir-me-ei a algo que me impressiona desde o dia em que vi, tecnicamente, o teor duma chamada mina anti-pessoal que coloquei às centenas naquele território.
Fui, naquele tempo, um oficial operacional da arma de infantaria com a particularidade de me ter especializado na vertente "minas e armadilhas".
Essa especialização foi ministrada na Escola Prática de Engenharia em Tancos onde permaneci 4 mêses familiarizando-me com a mais diversa quantidade e qualidade de engenhos.
Uma vez chegado à Guiné, e desembarcado no cais do Pigiguiti após uma caricata viagem no velhinho Carvalho Araújo, fui colocado na zona operacional de Bula.
A breve trecho fui deslocado para a zona entre Bula e o rio Cacheu cuja mata foi minada ao longo de 14 kms tendo sido montadas qualquer coisa como 50.000 minas. Foi obra !!!
Os efeitos práticos da detonação daqueles engenhos só viriam a ser observados quando houvesse um acidente. Infelizmente, esse, não demorou a ter lugar mas, para infortúnio nosso e lançamento da moral para os níveis mais deploráveis, aconteceu com um camarada nosso.
A estupidez daquele modelo de mina primava pelo conjunto de pregos e de pedaços de metal integrados no bloco de trotil que, ao rebentar, dilacerava o membro inferior de modo a estropiar barbaramente o infeliz.
Venho com esta restropectiva para elogiar todos os que se dedicam à tentativa de sensibilização das gentes no sentido de tudo se fazer para que tais restos bélicos sejam positivamente varridos dos ex-cenários de guerra.
Concordo que figuras públicas sejam aproveitadas para essa missão pela sua capacidade de intervenção mas exijo que sejam embaixadores dessa causa a tempo inteiro e não apenas quando tal acção se associa a um outro evento todo glamouroso onde se pavoneiam vaporosos vestidos com sensuais decotes e finalizados por torneadas pernas que escaparam ao cepo da detonação.
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