Este editorial publiquei-o aquando da condecoração de vários portugueses pelo Presidente da República em meados de 2002 . Eu não consto da lista !
Infelizmente, o jargão “ o estado não é uma pessoa de bem “ começa a tornar-se demasiado óbvio.
Quando o comum dos mortais é literalmente trocidado se optar, por razões de insolvência, em não pagar atempadamente os seus impostos, não vê como se pode alterar o epíteto citado quando, por outro lado, o estado, impunemente, não satisfaz em tempo oportuno os compromissos que assume com o cidadão;
Quando um dos 12 milhões de portugueses é beneficiado pelo estado com tratamentos preferenciais em relação a todos os outros, estamos na presença de compadrios que configuram comportamentos anti-democráticos e obscenos;
Quando um ministro não desmente, imediata e inequivocamente, um primeiro ministro que garante não ter havido acordo entre a administração fiscal e uma empresa quando, de facto, houve, apetece-nos chamar à memória aquela frase “ à mulher de César não lhe basta ser séria ! Tem que o parecer !!”
Quando os representantes de uma selecção nacional se comportam sem a força física e psicológica suficientes para uma missão de grande prestígio para a qual foram convocados e tecnicamente preparados, deveriam, em tempo oportuno, abdicarem em favor dos que melhor que eles fariam o mesmo trabalho. Se a vaidade e a falta de pudor a tanto não lhes permite, avance o estado a sanear a situação e não pactue com o branqueamento da mesma;
Quando a mesma selecção consegue, num arremesso de vergonha e modéstia, encher-se da força anímica desejada e vender caro o desaforo de outros tentarem vencê-la, deverá ser felicitada mas não endeusada ! Para tanto estamos cá nós, os restantes 12 milhões que sem pompa nem circunstância, sem vencimentos insultuosos, muitas das vezes sem vencimento, sem boçalismos confrangedores, com dificuldades exacerbadas, damos o litro, ficamos todos rotos, e chegamos ao fim e voltamos a dizer que este mês foi maior do que o costume!! ;
Quando o Presidente da República condecora 14 (!!) personalidades que obrigatoriamente serão o que de melhor existe no país nas áreas específicas e NINGUÉM sabe quem eles são, sou de opinião que também isto traduz, inquestionavelmente, a nossa pequenez e a nossa estupidez ! Neste caso, endosso ao estado os mesmos adjectivos !
Deixo a pergunta: sabem quem são Celso Pinto de Almeida? Aníbal Coelho da Costa? Joaquim Palmeiro Gonçalves? Michel Giacometti? Robert Bréchon? Manuel Rosa? Artur Torres Pereira? Rui Manuel Monteiro de Oliveira Beja? Rosa Maria Chaves Gonçalves? Leonel António Cameirinha?
Desculpem a ignorância do macaco, mas eu não sei ! Lamentavelmente !
António Matos
Lisboa, 09/06/2002
Infelizmente, o jargão “ o estado não é uma pessoa de bem “ começa a tornar-se demasiado óbvio.
Quando o comum dos mortais é literalmente trocidado se optar, por razões de insolvência, em não pagar atempadamente os seus impostos, não vê como se pode alterar o epíteto citado quando, por outro lado, o estado, impunemente, não satisfaz em tempo oportuno os compromissos que assume com o cidadão;
Quando um dos 12 milhões de portugueses é beneficiado pelo estado com tratamentos preferenciais em relação a todos os outros, estamos na presença de compadrios que configuram comportamentos anti-democráticos e obscenos;
Quando um ministro não desmente, imediata e inequivocamente, um primeiro ministro que garante não ter havido acordo entre a administração fiscal e uma empresa quando, de facto, houve, apetece-nos chamar à memória aquela frase “ à mulher de César não lhe basta ser séria ! Tem que o parecer !!”
Quando os representantes de uma selecção nacional se comportam sem a força física e psicológica suficientes para uma missão de grande prestígio para a qual foram convocados e tecnicamente preparados, deveriam, em tempo oportuno, abdicarem em favor dos que melhor que eles fariam o mesmo trabalho. Se a vaidade e a falta de pudor a tanto não lhes permite, avance o estado a sanear a situação e não pactue com o branqueamento da mesma;
Quando a mesma selecção consegue, num arremesso de vergonha e modéstia, encher-se da força anímica desejada e vender caro o desaforo de outros tentarem vencê-la, deverá ser felicitada mas não endeusada ! Para tanto estamos cá nós, os restantes 12 milhões que sem pompa nem circunstância, sem vencimentos insultuosos, muitas das vezes sem vencimento, sem boçalismos confrangedores, com dificuldades exacerbadas, damos o litro, ficamos todos rotos, e chegamos ao fim e voltamos a dizer que este mês foi maior do que o costume!! ;
Quando o Presidente da República condecora 14 (!!) personalidades que obrigatoriamente serão o que de melhor existe no país nas áreas específicas e NINGUÉM sabe quem eles são, sou de opinião que também isto traduz, inquestionavelmente, a nossa pequenez e a nossa estupidez ! Neste caso, endosso ao estado os mesmos adjectivos !
Deixo a pergunta: sabem quem são Celso Pinto de Almeida? Aníbal Coelho da Costa? Joaquim Palmeiro Gonçalves? Michel Giacometti? Robert Bréchon? Manuel Rosa? Artur Torres Pereira? Rui Manuel Monteiro de Oliveira Beja? Rosa Maria Chaves Gonçalves? Leonel António Cameirinha?
Desculpem a ignorância do macaco, mas eu não sei ! Lamentavelmente !
António Matos
Lisboa, 09/06/2002
3 Comments:
Ao contrário do anterior editorial que aqui trouxeste, este não o li na data de publicação. Este facto torna mais difícil entender as referências indirectas que nele fazes.
De qq forma, a título de curiosidade, digo-te que da extensa lista de personalidades que referes, conheço uma, só uma: Michel Giacometti. Parece-me estranho que tenha sido condecorado nessa data, não por falta de mérito, mas pq teria de ser a título póstumo. De qq forma, se o foi, e se os outros têm mérito equivalente, vejo mérito em a Pátria, que nem sequer era a dele, reconhecer-lhe os serviços prestados - seja com uma condecaração, o nome de uma rua, o que for de pequeno mas simbólico. Se os restantes da lista tiverem igual mérito, é a minha ignorância que deve ser posta em causa, não o reconhecimento da Pátria.
Deixa-me tentar esclarecer o que na altura me ia na alma.
Algo vai mal na Nação que não divulga nem enobrece quem de direito deixando abandonados no mais vil esquecimento todos aqueles que, afinal, até vieram a ser alvo de homenagens ! Afinal havia tantos que ninguém conhecia ....
Giacometti claro que é conhecido, embora francês foi reconhecido ( não me lembro do intuito da condecoração ) mas não achas estranho ninguém conhecer os laureados ? Era essa a minha crítica.
Meu caríssimo Alex, italiano será quando a Córsega deixar de pertencer à França ....
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